19 de março de 2012

"Pedaços de mim, Pedaços de Nós" - Carta II

Imagem retirada da Internet

Meu amor,

A angústia escorre pela minha mão, por isso necessito escrever-te esperando que este compasso do coração se acalme. Hoje li uma frase que dizia: Ame as pessoas como elas são e não como gostaria que elas fossem. Deitei uma nostálgica lágrima no canto do olho, e pensei em ti. Porque eu te amava como eras… E eras exactamente como eu gostaria que fosses! Agradeço-te os segundos, as horas, os dias, meses e anos que passaste ao meu lado sendo uma perfeição de companheira. Agradeço teres trazido vida aos meus dias, teres trazido brilho aos meus olhos, teres transformado o que havia diminuto no meu coração em algo maior que o infinito.
Conseguiste despertar o melhor que estava adormecido em mim; a nossa união sentimental tornou-nos pessoas melhores para com o mundo. Conseguimos juntos fazer pequenos instantes se tornarem em grandes momentos. Momentos que guardo com enorme carinho na poesia do meu coração. Quem me dera que esses momentos passados pudessem se perpetuar indefinidamente! Este amor que sinto é tudo o que carrego dentro de mim. Por isso se pudesse trocaria todos os meus dias futuros, por um único dia contigo. E esse dia seria tão perfeito, que eu alcançaria a mais plena das felicidades, e num suspiro de satisfação morreria.
Meu amor, esta noite estive no areal dourado da praia de Machico, e sofri a cada pegada deixada na areia, lembrando-me quando olhava para trás e via também as tuas pegadas. Parei, sentei-me e lancei meu olhar sobre o mar. Com o meu tresloucado pensamento fui até ti; estavas ali na penumbra do horizonte.  Foi lindo ver-te.  O meu coração batia tão depressa e só queria que aquele momento perdurasse eternamente. Olhavas para mim, sorrindo e estendendo a tua mão. Falei contigo sem saber o que dizer, pois sentindo-te tão perto de mim, não te podia tocar, não podia alcançar-te. Tu ali tão perto e eu cheio de saudades.  Relembrando como era bom estar na tua presença, lembrando-me do teu corpo, de cada gesto, cada olhar. Era lindo... Era tão lindo estar contigo! Gritei pelo teu nome, mas não me ouviste e, de repente, vi-te cada vez mais longe, desaparecendo na paisagem intacta do impune horizonte.
Foi um momento de loucura. Mais um. As lágrimas queriam se apossar da minha face.  Levantei-me apressado, com as mãos carregadas de areia sufocada de meus punhos. Um sufoco também no meu coração. Parti da praia e procurei caminhos, procurei respostas, procurei encontrar-me. Vagueei sozinho pela baixa da cidade, relembrando lugares e momentos que me fizeram feliz, relembrando segredos que me confiaste. E nessa deambulação, a noite encolerizou meus sentimentos e estimulou meus sonhos. Sentia uma angústia neste coração prestes a libertar emoções amordaçadas. Desejando que aparecesses, de súbito, na esquina de uma rua, no baloiço do jardim… Enfim, no meu caminho de dolência, cheio de abismos e sobressaltos, numa descrição suave e plena de romantismo. Meu olhar perdeu-se na tua transcendência, e eu caminhava já sem saber por onde ir, cheio de frio, com os pêlos arrepiados, contigo no pensamento, contigo no coração. Contigo sempre, até ao caixão.           
Sabes, meu amor, eu queria tanto dar um passeio pelo mar contigo por uma última vez, cheirar o vento cheio de magia, cheio de ti, e depois perder-me contigo nas ondas do mar, perder-me num suspiro e num beijo, perder-me num sorriso… Perder-me e ser feliz. Mas tudo isto não passam de sonhos e ilusões resultantes destas vulcânicas saudades. Sim, estou sozinho e só sei que agora está frio, e não te tenho aqui para me aqueceres.
E fico aqui deitado no nosso sofá, apenas com um cobertor que me resguarda, pensando em ti... Acariciando a minha almofada, suave, tão suave como a tua voz que ecoa em meus ouvidos e aquece o meu coração. Meu olhar se perde em sonhos… Bem que podias voltar, deitares-te nos meus braços e juntos escutarmos a chuva que começa a cair lá fora. Lá fora e cá dentro. Cá dentro… Chuva de lágrimas. Vem, aquece-me, enxuga as lágrimas do meu olhar com o teu jeito doce de amar. Deixa-me sonhar. Porque até ao infinito do sonho, a tua luz brilhará na minha vida.
Amo-te.
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* Carta 2 de 7 de "Pedaços de Mim, Pedaços de Nós" - 3º premiado do VI Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega - Camões Pequeno

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