16 de junho de 2012

"Pedaços de mim, Pedaços de Nós" - Carta VI



 Flor dos meus olhos,

Hoje é quarta-feira. O mundo lá fora passa. E eu que tanto sonhei, e eu que quis viver na profundeza do teu amor, estou aqui, reflorescendo numa flor cheia de medos. A dor, em mim tingida, enche-me o coração… Essa dor, pintada de uma negra cor, me possui de solidão. E se viesses invadir com esse teu jeito estonteante, este mundo desventurado, quebrando as regras dos céus, deste universo imperioso? Esta quarta feira, certamente seria diferente.
Parece que as horas não passam. Ah, meus nobres pensamentos, que bondosamente vão dando um pouco de paladar a esta amarga vida. Sabes, enquanto estiveste ao meu lado tentei dar-te tudo aquilo que uma mulher merece. Não era nenhum desafio, mas um propósito genuíno do meu coração. Às vezes, porém, acredito que não disse as palavras perfeitas, na hora certa, no momento exacto. Sei que me desculpas isso. Pois sabes que envolvi o teu coração e o teu corpo com toda a minha ternura, fazendo com que respirasses uma delicada paz. Tentei sempre que estava ao meu alcance não permitir que a dor, por mais leve que fosse, chegasse até ti. Amei e entendi os teus silêncios, e agradeço-te teres respeitado os meus. Hoje consigo perceber plenamente porque dizem que os amores profundos cultivam-se em silêncio. Estive ao teu lado nos momentos de inquietude, e tentei serenar-te mostrando soluções para os problemas que te perturbavam.
Amei-te todos os dias, como se não houvesse amanhã, e sentia o teu contentamento por isso. Ver teus sorrisos era para mim uma gratificação espantosa. No teu rosto lembrarei sempre a moldura desses sorrisos. Por mais tempo que passe é impossível esquecer tudo aquilo que vivenciamos. Duas vidas que se uniram numa união perfeita, sendo impossível separá-las. Não é a tristeza da tua morte que fará com que este laço que nos uniu se desenlace... Não, meu coração prende-o fortemente, como prometemos naquele dia em que estávamos vendo o pôr-do-sol: Amar-nos eternamente.
Minhas lágrimas hoje caem das lembranças de momentos só nossos, momentos lindos, momentos íntimos que nos davam uma felicidade indescritível. Sei que um dia partirei para onde tu partiste, levarei este coração que tem teu retrato como pano de fundo, e feliz descansarei...
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Carta 6 de 7 de "Pedaços de mim, Pedaços de Nós" - 3º premiado do VI Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega - Camões Pequeno