Flor dos meus
olhos,
Hoje é quarta-feira. O
mundo lá fora passa. E eu que tanto sonhei, e eu que quis viver na profundeza
do teu amor, estou aqui, reflorescendo numa flor cheia de medos. A dor, em mim
tingida, enche-me o coração… Essa dor, pintada de uma negra cor, me possui de
solidão. E se viesses invadir com esse teu jeito estonteante, este mundo
desventurado, quebrando as regras dos céus, deste universo imperioso? Esta
quarta feira, certamente seria diferente.
Parece que as horas não
passam. Ah, meus nobres pensamentos, que bondosamente vão dando um pouco de
paladar a esta amarga vida. Sabes, enquanto estiveste ao meu lado tentei dar-te
tudo aquilo que uma mulher merece. Não era nenhum desafio, mas um propósito genuíno
do meu coração. Às vezes, porém, acredito que não disse as palavras perfeitas,
na hora certa, no momento exacto. Sei que me desculpas isso. Pois sabes que
envolvi o teu coração e o teu corpo com toda a minha ternura, fazendo com que
respirasses uma delicada paz. Tentei sempre que estava ao meu alcance não
permitir que a dor, por mais leve que fosse, chegasse até ti. Amei e entendi os
teus silêncios, e agradeço-te teres respeitado os meus. Hoje consigo perceber
plenamente porque dizem que os amores profundos cultivam-se em silêncio. Estive
ao teu lado nos momentos de inquietude, e tentei serenar-te mostrando soluções para
os problemas que te perturbavam.
Amei-te todos os dias, como se não houvesse amanhã, e sentia o teu
contentamento por isso. Ver teus sorrisos era para mim uma gratificação espantosa.
No teu rosto lembrarei sempre a moldura desses sorrisos. Por mais tempo que passe é impossível
esquecer tudo aquilo que vivenciamos. Duas vidas que se uniram numa união
perfeita, sendo impossível separá-las. Não é a tristeza da tua morte que fará
com que este laço que nos uniu se desenlace... Não, meu coração prende-o fortemente,
como prometemos naquele dia em que estávamos vendo o pôr-do-sol: Amar-nos eternamente.
Minhas lágrimas hoje caem das lembranças de momentos só nossos, momentos
lindos, momentos íntimos que nos davam uma felicidade indescritível. Sei que um
dia partirei para onde tu partiste, levarei este coração que tem teu retrato
como pano de fundo, e feliz descansarei...
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Carta 6 de 7 de "Pedaços de mim, Pedaços de Nós" - 3º premiado do VI Concurso Literário Francisco Álvares de Nóbrega - Camões Pequeno
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